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Por que fazer terapia?

  • csvitras
  • 30 de abr.
  • 2 min de leitura

Se a terapia não vai resolver problemas sociais e estruturais, ela serve para quê?



mulher deitada em um divã, com outra mulher, psicóloga, borrada ao fundo. O movimento da primeira mulher indica que ela está falando

 

No mundo conectado atual, é comum estarmos cada vez mais inteirados sobre os aspectos sociais e políticos que influenciam diretamente a existência e vida das pessoas. Enquanto o desemprego, as violências a grupos minoritários e até mesmo a crise ambiental são questões concretas e que necessitam de uma intervenção complexa, a experiência de viver estas situações cria imagens e significados que podem tornar o sofrimento ainda mais intenso. Assim, diante dessas questões, o objetivo da terapia é permitir que a pessoa fale sobre como é estar atravessada por estes lugares sociais que lhe foram dados.

 

Como humanos inseridos na cultura e na linguagem, aprendemos a atribuir juízos de valor às coisas, classificando-as em determinadas categorias, como "boas" e "ruins", por exemplo. Para além disso, as nossas relações nos transmitiram conceitos relacionados às experiências e situações que foram moldando, conscientemente ou não, o status que damos a elas.

 

Por exemplo, alguém que foi criado por uma família que acredita que valor das pessoas é definido pelo quão trabalhadoras elas são, talvez poderá desenvolver o sentimento de menos valia se estiver enfrentando um período de desemprego, ou até mesmo de dúvida profissional. Além disso, as nossas relações também são firmadas em expectativas postas nas pessoas envolvidas. Assim, esta mesma pessoa do exemplo pode passar a acreditar que não merece estar um relacionamento afetivo porque não tem um trabalho concreto ou que seus amigos perderão o interesse em sua companhia por não poder gastar grandes quantias em saídas.

 

Vemos, então, como é possível que uma situação fora do controle dos indivíduos possa gerar estresses e angústias para além da sua influência objetiva, trazendo à tona todas as construções e significações que foram dadas ao mundo ao longo de suas vidas. Neste sentido, o espaço da psicoterapia tem o objetivo de ajudar essas pessoas a compreender o que nas suas situações vividas gerou ou ainda gera o sofrimento e quais construções inconscientes foram feitas sobre os acontecimentos (construções essas que, no fim, prendem estas pessoas a uma regra específica de vida e existência). Assim, esse movimento de explorar tais aspectos pode ser fundamental para aliviar a carga emocional relacionada ao fato concreto que aconteceu.

 

Além disso, ao ter determinadas condições sociais ou fazer parte de determinados grupos, as pessoas podem passar a serem lidas socialmente de formas diversas, sendo colocadas em posições e lugares sociais que, muitas vezes, são violentos e opressores. Em relação a isso, o psicoterapeuta deve oferecer uma escuta que permita que esta pessoa fale de si, sem colocá-la em um lugar ou outro, de forma a permitir que retome sua condição de sujeito de direitos, vontades e história e que pode falar por si, sem precisar representar os papéis que a sociedade lhes deu.


Podemos ver aqui como a terapia pode ser uma ferramenta útil para reduzir o sofrimento provocado por situações concretas para além de seu campo de atuação. Permitir que as pessoas tenham um lugar seguro para falar o que lhes aflige, o que incomoda e o que pensam sobre as coisas é fundamental para que possam também olhar para estas vivências a partir de outras perspectivas, que sejam suas e não mais de outras pessoas.

 
 
 

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